Yo! Tudo bem com vocês? Que tal refletirmos um pouco sobre mais um assunto ligado aos animes e mangás? Enfim espero que gostem de mais esse texto opinativo e reflexivo sobre um dos elementos da cultura otaku.

Afinal, o que é Sailor Fukutização?
Não pesquisei se outras pessoas também usam o termo, mas Sailor Fukutização, assim como a Moeficação, é um termo que utilizo para exemplificar um “fenômeno” inerente a animes, mangás, novels e outros produtos relacionados a cultura otaku. Trata-se da exploração exacerbada do tema “colegial” e/ou de personagens colegiais nas mídias visuais supracitadas. Escolhi esse termo, pois “Sailor Fuku” é a maneira como os japoneses e referem ao uniforme escolar feminino que são baseados em fardas de marinheiros e que são adotados por praticamente todas as escolas colegiais japonesas (escolas fundamentais também).

E porque fazer um texto sobre isso?
Em parte por uma irritação pessoal com relação ao tema, mas principalmente porque é uma característica de séries de mangá/anime (eu não vou ficar repetindo “anime, mangá, light novel e outros produtos relacionados a cultura otaku”, então citarei apenas a expressão “mangá/anime”, mas tome tudo que for dito no texto como algo relacionado a todas essas mídias) que nos últimos anos, ou na última década, se tornou um fenômeno.

Como assim um fenômeno?
O costume de se produzir mangás com a temática colegial vem desde os anos 50 com a volta das publicações de mangás após a segunda guerra mundial. O tema era tratado apenas como mais um gênero, ou como elemento de fundo apenas para identificar a faixa etária a qual os personagens da história pertenciam e meio que é assim até hoje. Porém as obras com essa característica sempre representaram um espaço substancial, porém nem perto de ser um elemento muito mais recorrente do que os demais tipos de obras. Suponho até que entre os anos 80 e 90 havia uma quase equivalência entre obras colegiais e policiais (como eu sinto falta de séries policiais). Já na última década, o número de história situadas no meio colegial ou protagonizadas por colegiais aumentou de maneira exacerbada, em especial nas temporadas de animes dos últimos 3 a 4 anos, é comum 30% ou mais da quantidade de animes em cada temporada ter a temática colegial ou ser protagonizada por colegiais.

Claro que em parte isso se deve à popularidade desse tema ser grande, no entanto esse fenômeno cada vez mais causa um declínio da variabilidade de temáticas, ainda que se explore o tema ou a ambientação em conjunto com um número gigantesco de outros temas, características comuns de animes colegiais são e necessitam ser preservadas para abordar esse tema. A mais óbvia é a quase que necessidade de todos ou quase todos os personagens serem colegiais. Claro que a grande maioria das pessoas que leem mangá e assistem anime são adolescentes e jovens adultos que a pouco saíram do colegial (fora aquela razoável massa de otakus adultos que abrange muitos dos leitores desse blog inclusive o autor desse texto) e por isso é normal que a maioria dos personagens também sejam adolescentes para que haja um empatia maior. Porém, essa super popularidade de personagens adolescentes é uma das causas da infantilização de elementos destinados ao público adulto e também do design e da caracterização de personagens adultos.
Outra característica inerente a obras colegiais é a imaturidade da trama ou das ações dos personagens, pois ainda que ajam algumas obras colegiais bastante maduras, a maturidade é um elemento um tanto estranho para caracterizar um jovem, de modo que muito da pouca maturidade desses animes venham dos poucos personagens adultos, mas como esses mesmos personagens geralmente não tem muito relevância (e muitas vez quando têm, ocorre a supracitada infantilização desses personagens), a trama se torna realmente imatura, o que faz sentido.

Existem outras características que poderiam exploradas, mas para não me estender muito mais vou apresentar abaixo os problemas de tudo isso com foco na “infantilização”, na “imaturidade” e no fato de haver esse crescimento exacerbado de mangás/animes colegiais.
Enfim qual a problemática de tudo isso?
A meu ver o grande a infantilização de elementos destinados ao público adulto, causa a má exploração de muitos desses elementos, em especial podemos falar de ecchi, que em muitos casos se confunde, pois o ecchi para jovens não deveria ser tão expositivo como é hoje em dia, e para adultos, porque muitos mangás/animes colegiais sabem que adultos os acompanham e usam elementos para atrair mais deles, não deveria ser tão inocentes. A confusão disso tudo acaba gerando um ecchi por ecchi que vira fanservice e se torna muitos vezes inútil para trama, ainda que cumpra seu papel de chamar a atenção de pessoas que não se preocupam tanto com a trama (embora acho que até essa galera uma hora cansa).

Com relação a imaturidade, em parte tudo depende muito do como a trama se desenrola, mas particularmente é fácil citar exemplos de obras que, por exemplo, tenham professores que mais parecem estudantes colegiais e que não parecem ter a menor capacidade de conduzir uma sala de aula, ou de personagens adultos que premeditadamente tem designs infantis. Além disso, é incrível como boa parte das obras colegiais não parecem fazer ideia de quão complicado é para adolescentes a questão dos relacionamentos amorosos e a super sexualização de ações de personagens são tratadas como algo extremamente comum, pelo menos em obras destinadas principalmente ao público masculino. Geralmente nesse quesito shoujos colegiais sabem trabalhar muito bem, enquanto que que shounens… Também podemos falar da confusão que se há entre o tom sério ou não de um mangá/anime colegial com relação a mortes, que muitas vezes se confunde no meio das tramas, porém falar sobre o tom certo ou errado de uma trama merece um texto só para si e possivelmente eu o escreverei um no futuro.

Voltando a questão do número grande de obras colegiais nos dias de hoje, como já citei há uma série de “regras” que a maioria das obras colegiais “precisa” seguir e no geral, mesmo com a grande variação de temas associados, há muita coisa parecida e por isso às vezes esses temas a mais acabam perdendo um pouco da força dentro da trama. Ou seja, esse número crescente de séries colegiais tem sim causado a diminuição da variabilidade de tramas e de maneiras como tramas diferentes são abordadas. Uma forma fácil de exemplificar isso, é que por mais diferentes que sejam os clubes colegiais em cada mangá/anime (clube de música, clube de astronomia, conselho estudantil, clube faz tudo e etc.) sempre há características comuns pré-estabelecidas que tornam eles meio similares (isso não vale para animes esportivos).

Esse texto não tem o intuito de demonizar os mangás/animes colegiais, pois há sim muitas obras boas com essa temática ou característica, ou ambientação, e há exceções a todas as ideias acima comentadas, mas o exagero do número de séries desse tipo tem sim causado um dano a indústria e possivelmente um afastamento de muitos espectadores e leitores antigos de animes e mangás. Eu acho que há espaço para todo tipo de obra, mas há uma carência grande de animes (principalmente animes mesmo) mais adultos e mais maduros, há uma necessidade de se dar mais visibilidade a obras diferentes em light novels e animes. Ainda há muitos mangás bons e de sucesso não colegiais por aí, por que será que não ocorre o mesmo com animes e light novels? E a falta de mais obras diferentes nessas outras mídias faz com que muito mangaka acabe também optando por criar mais obras colegiais já que elas aparentemente fazem mais sucesso, isso gera um ciclo vicioso.
Finalizando, eu estou sim cada vez mais saturado e, por que não dizer, irritado com a quantidade principalmente de animes e light novels colegiais, eu não desejo que pare de se fazer obras colegiais eu só realmente desejo que num futuro próximo haja uma espaço maior também para séries não colegiais e que sejam protagonizadas por adultos que se parecem adultos. Sabe, eu não lembro a última vez que vi um slice of life adulto, será que eu realmente verei outro desses nessa década?
PS.: Se possível dê uma olhada nos comentários, há uma discussão que está ajudando a complementar esse texto…