Off Topic #1: Wakfu
Antes de falar sobre Wakfu, vale a pena explicar do que se trata a nova coluna Off Topic (que estou para estrear faz mais de um mês). Basicamente é um espaço onde irei resenhar ou simplesmente apresentar obras e animações ocidentais, alguns live actions baseados em mangás ou novels e possivelmente tokustasus. O título da coluna vem do fato de essas mídias não serem o foco principal do blog.
Wakfu é uma série de animação francesa produzida pela Ankama Animation em flash e conta com duas temporadas de 26 episódios cada. A franquia conta também com dois especiais e três OVA’s. Há também previsão de uma terceira temporada, com indício de que a produção da mesma comece ainda esse ano, mas não há confirmação em nenhum dos meios de divulgação oficial da série, com exceção de fóruns. A série de animação é oficialmente distribuída fora da França pelo Netflix.
A história da produção dessa animação é um tanto quanto confusa. A série é baseada no jogo de MMORPG por turnos Wakfu da Ankama Games, que começou a ser desenvolvido em 2006 como uma expansão do universo do jogo Dofus, lançado em 2005 pela mesma empresa. Porém o jogo de Wakfu foi lançado em fase beta apenas em 2011 e em fevereiro de 2012 foi lançado sua versão final. No entanto a primeira temporada da série de animação foi ao ar pelo canal France 3 em outubro de 2008 e terminou em junho de 2010. De fevereiro de 2011 a março de 2012 foi apresentada a segunda temporada. No mesmo dia da apresentação do último episódio da primeira temporada foi lançado também o especial “Noximilien the Watchmaker”, produzido por uma equipe japonesa com um design e animação completamente diferentes do seriado de tv. Em 2011 foi lançado o especial “Ogrest the Legend”, que apresenta a premissa da história do jogo que se difere do anime. Finalmente em novembro de 2014 foram lançados 3 OVA’s que apresentam uma história passada após os eventos da segunda temporada e com o clássico design da série de animação.
História
A história da série de tv gira em torno de Yugo, um jovem com pequenas asas brilhantes na cabeça que estão quase sempre encobertas por seu chapéu. O jovem foi deixado por um humanoide misterioso ainda bebê para ser cuidado por um taverneiro. Yugo não sabe, mas ele é uma singularidade nesse mundo e em algum momento ele terá de sair em uma jornada que lhe levará à sua verdadeira origem. E é isso que vemos no começo da trama, quando Yugo finalmente desperta o seu mais importante poder, a habilidade de criar portais.
Em sua jornada Yugo será acompanhado pelo seu destemido bichinho de estimação e companheiro, AZ, o tofu (um tipo de ave). Pelo ganancioso e experiente Ruel Stroud, um Enutrof (uma raça de humanos gananciosos extremamente habilidosos na arte do comércio, barganha e escavação). Pelo forte Sir Percedal, um Iop (humanoides fortes e habilidosos, mas quase sempre muito burros e que nunca fogem de uma boa briga) cavaleiro da ordem dos guardiões dos Shushus, e sua espada Robilax, um Shushu (Demônios que normalmente vivem presos em armas, quando no mundo de Wakfu, pois existe um mundo próprio dos Shushus, que é explorado na segunda temporada da série de animação) extremamente forte. Pela princesa Sadida (Uma raça de seres extremamente ligados a natureza. Seus principais poderes envolvem manipular plantas) Amalia Sheran Sharm, que fugiu mais uma vez de seu reino. E pela Cra (Uma raça de elfos que geralmente protegem o reino dos Sadidas) Evangelyne, que é ao mesmo tempo a guarda-costas e a melhor amiga de Amalia.
Na primeira temporada a trama principal gira em torno da descoberta da identidade de Yuko e da vingança do principal antagonista Nox, um Xelor (Uma raça antiga de humanoides que aparentemente foi extinta), que para alcançar seu objetivo não se importa em passar por cima de qualquer um. Ao longo da jornada somos apresentados aos principais locais, as principais raças e a cultura dos diversos cantos desse mundo fantástico. Uma vez apresentado ao mundo, a segunda temporada se foca no aperfeiçoamento das habilidades de Yuko, em explorar mais o relacionamento dos personagens e em apresentar mais sobre os Shushus, os grandes vilões dessa segunda temporada.
Vale um destaque especial para o esporte mais famoso desse mundo, o Gobbowl, que é uma mistura de dodge ball (queimada) com futebol americano que privilegia os trapaceiros. Alguns dos melhores episódios de ambas as temporadas são ligados a esse esporte.
Detalhes técnicos
Um dos motivos que afasta muitos dessa série é o fato de sua animação quase toda ser feita computacionalmente utilizando flash, mas nem de longe isso chega a ser um grande demérito para a série. Apesar de deixar a desejar em certos movimentos mais sutis, como a movimentação de cenários e certos movimentos mais simples de personagens, a animação brilha em cenas de ação e os efeitos visuais fazem muito bem seu trabalho tornando tudo mais interessante e empolgante. Vale ressaltar que há uma perceptível melhora da animação na segunda temporada.
Se por um lado a animação pode não agradar tanto alguns, o design de personagens é quase que unanimemente um destaque positivo. Mesmo sendo um pouco simples, cada pequeno detalhe serve para identificar e diferenciar os personagens. E isso é ainda mais perceptível quando compara-se as diversas raças desse mundo, pois é muito interessante como a arte destaca bem as características de cada raça. Outro ponto a favor da equipe de arte da série fica por conta dos cenários. A cada novo vilarejo, a cada nova nação, a cada nova localidade os cenários brilham e mostram o quão vasto e interessante é esse mundo.
Quanto a música, não acho que seja o ponto mais forte da série, pelo menos os temas principais não chegam a ser inesquecíveis, embora sejam interessantes. Já a trilha instrumental e os efeitos sonoros são bons e servem para ressaltar a atmosfera em torno de cada cena.
Por fim, a dublagem vai variar de gostos. Eu acompanhei três dublagens ao longo das duas temporadas da série e particularmente a dublagem brasileira foi a que mais me agradou (embora eu prefira a abertura francesa), seguida pela americana e só então a dublagem original francesa. Há ainda outras possibilidades de linguagens, embora eu não lembre se o Netflix brasileiro oferece todas elas.
Considerações sobre a história e considerações finais
As partes em vermelho contém alguns spoilers
Não é difícil perceber que muito de Wakfu é inspirado em animações japonesas e rpg’s de fantasia medieval clássicos. Um dos pontos mais interessantes da obra é o cuidado que a Ankama teve em desenvolver muito bem todo esse mundo onde a história se passa. Wakfu não é simplesmente mais um mundo de fantasia medieval, mas é um mundo completamente diferente de todos os outros, com suas próprias raças, leis naturais e cultura. É importante citar que a trama de Wakfu se passa mil anos após a do jogo Dofus e por isso é fácil perceber que existe uma profunda história por trás de cada nação, cada raça, de cada elemento da trama.
Fora isso, a construção dos personagens é muito bem feita e ninguém nesse mundo é bidimensional (com relação a personalidade e modo de agir é claro), todos tem seu motivo para ser como são e isso embasa ainda mais as atitudes que levam ao amadurecimento de cada personagem. Quando Yuko descobre ter um irmão dragão por exemplo, ficamos surpresos, mas por outro lado nada indica que essa foi uma solução forçada, pois tudo é tão bem encaixado e construído para chegar aquele ponto que quando simplesmente é revelado esse fato, a reação natural é o entusiamo e o interesse em querer saber mais e mais o que isso significa para esse universo.
Além disso tudo, um dos pontos mais legais de Wakfu está na interação entre as diversas raças. Enquanto que na cidade de Bonta as regras de Gobbowl não impedem que mulheres joguem, em Brakmar mulheres jogando o honroso Gobbowl de Brakmar é uma ofensa. A forma como essas diferenças são trabalhadas demonstra ainda mais como esse universo é bem construído.
Apesar de tudo que falei acima, a trama de Wakfu sofre do mesmo problema de muitos bons animes, que é a lentidão do desenvolvimento da mesma, pois os primeiros episódios tem como função principal mostrar mais de cada um dos personagens principais e a interação deles entre si e com o resto do mundo. E tal como os bons animes, quando a trama começa a ser mais desenvolvida é difícil parar de assistir.
Enfim, Wakfu é bem mais do que uma série de ação francesa baseada em um jogo, é uma aula de como se adaptar bem um jogo para uma animação e de como trabalhar bem personagens completamente diferentes, que mesmo que pareçam insuportáveis em um momento, você ao fim de uma temporada da série irá ficar com saudades de cada um.